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Se depender de mim, nunca ficarei plenamente maduro nem nas ideias,

nem no estilo, mas sempre verde, incompleto, experimental.


Tempo morto e outros tempos

domingo, 10 de abril de 2016

Toda separação é dolorida

Hoje irei escrever sobre um assunto que bateu à minha porta há alguns anos, mas não falarei sobre essa situação. Falarei sobre a situação que mulheres enfrentam quando há a separação do marido, do pai dos filhos. Hà três amigas minhas que são próximas e que já passaram por essa situação. Conversando com elas, pedi que elas compartilhassem brevemente o que haviam vivenciado após a separação dos respectivos maridos e pais dos filhos dela. Vou somente colocar as iniciais do nome de cada uma, pois não perguntei se eu podia publicar o nome delas, então para não criar nenhuma situação chata, vou me referir a elas, no texto, somente pelas iniciais. A primeira que me contou a história dela foi a C. Conheço C há uns bons cinco ou seis anos. Agora que casei de novo, que moro em Guarulhos, faz um tempo que não nos encontramos, mas estamos sempre nos falando. Eu acompanhando o desenvolvimento da família dela e ela acompanhando o desenvolvimento da minha. Quando a conheci eu era solteira, já havia separado do meu primeiro marido e ela era casada. Um tempo depois ela se separou, com três filhos para criar. Saiu da casa onde morava com o marido e foi morar, novamente, com os pais dela. Hoje, o filho dela mais novo, que na época era bebê, acho que tinha nem um ano está um menino grande e maravilhoso. Aliás, os três filhos dela são maravilhosos. Mas estou aqui para falar das situações pelas quais uma mulher passa quando se separa. C é enfermeira, que trabalha em um hospital público municipal de São Paulo, ou seja, imaginem que os horários dela não sejam tão fáceis de coordenar, pois há plantões, há trabalho em Natal, Ano Novo, Páscoa, Dia dos Pais e Dia das Mães. Mesmo assim ela vem contornando todos os pesares, chegando de plantão e cuidando das crianças, enviando-as à escola para depois ela poder descansar, isso quando não tem coisas a resolver, paredes para pintar ou aula de dança para fazer, né C? Lendo e analisando assim podemos dizer: Ah, ok, a vida da moça é sofrida, complicada mas ela dá conta. Ela dá conta sim. Mas ela tem que dar conta sozinha? Cadê o pai dessas crianças? Participa com muita restrição. Há festas e momentos das crianças que o pai não está. Diz que está em plantão, já que o pai deles é policial. Mas e quando há um evento, a C não se desdobra e vai? E como fica a situação quando o pai casa com outra mulher que não se dá bem com as crianças.? Eu sei que não é fácil. C passa por situações muito estressantes por causa disso. Certa vez, a filha de C foi passar as férias, ou algum feriado, na casa do pai e da nova esposa dele, um tio dela, por parte de pai, numa brincadeira estúpida, deslocou o ombro da menina. Quem correu para cuidar dela? C. O dinheiro que os maridos tem que pagar como pensão é ínfimo, óbvio, quem cuida de uma criança sabe quanto é alto o gasto para cuidar e fazer essa criança desenvolver plenamente, gastos com educação, saúde, esportes, outra língua, passeios da escola, passeios, viagens, férias, comida, roupa etc etc etc. Quem tem filho sabe do que eu estou falando! O menorzinho dessa minha amiga passou, recentemente, por uma cirurgia séria. E o pai? Cadê? Não foi. Não estava presente. No retorno houve uma situação muito triste, o filho virou para a mãe e comentou que a maioria dos meninos estava acompanhado do pai e não da mãe, como ele. A mãe sensibilizada disse: na próxima vez seu pai virá. Mas ela sabe que não dá pra contar com o cara. Simples assim. Ele não participa. Vez em quando liga. Vez em quando fica com as crianças. Está certo isso? O casal se separou, mas os filhos são dos dois, os dois fizeram, os dois tem responsabilidade para com os filhos, sua criação e os cuidados a serem tomados com eles. Outra amiga é a M, que também passa por maus bocados. Mas nesse caso, não sei, eu acho, é muito pior, por quê? Porque simplesmente o pai do segundo filho dela. O pai da primeira filha morreu, Ela casou novamente, separou, e o pai do filho dela além de não pagar pensão e quando pagar ser um valor praticamente simbólico, não liga ou visita o filho. Não pega o filho para passar o final de semana com ele, nem férias, nem nada. Não quer saber do filho. Como será que fica a cabeça dessa criança? Depois alguns pais reclamam que as mães falam mal deles para os filhos. Não está certo fazer isso, pois o filho também não tem culpa de o pai tomar atitudes como esta. Mas tem hora que a paciência vai pro brejo numa situação dessas. A mulher tem um filho com um homem, com quem está casada, de repente o casamento termina e o homem acha por bem abandonar tudo? Abandonar mulher e filhos? Está certo isso. pergunto novamente? Para mim não. É fácil, simplesmente, fazer um filho, largar a mãe e deixá-la sem amparo para cuidar desse filho. E a responsabilidade onde fica? E a lei onde fica? A minha outra amiga é a T. Ela se separou quando a primeira filha tinha três anos e a segunda tinha apenas 11 meses. E ela disse que separou por não poder contar com o marido para os cuidados com as filhas e a casa. Chegava em casa achando que ele iria ajudá-la e nada, o cara ficava lá sentado no sofá, esperando que ela fizesse tudo, mesmo ela tendo trabalhado oito horas e meia no dia. Aí ela cansou de ter essa expectativa e isso nunca acontecer. E o cara nunca mudar. Separou. E hoje ela disse, depois de terapias e cuidados consigo e com as meninas hoje ela está muito melhor. Por ela ficar na expectativa que o marido mudasse, que o marido a ajudasse, isso foi a desgastando. Ela hoje se sente muito mais mulher, muito mais consciente de si e do que ela é capaz. Uma pergunta que fiz a todas. Com quem vocês contaram para manterem o equilíbrio e cuidarem dos seus filhos sem abandonarem seus empregos? E C me respondeu que o pai dela é um grande braço direito, ela mora com ele portanto ele a ajuda em muitas coisas, como buscar os meninos na escola, cuidar deles enquanto ela trabalha. Além do pai ela conta com a ajuda de uma babá que cuida das crianças e da casa. Além disso, há a irmã da C que também corre quando há algo mais urgente ou que alguém não possa fazer por ela. M disse que conta com ela e somente ela. E que sempre foi ela que cuidou de tudo, que havia uma pessoa que cuidava da casa, já que ela trabalha fora, mas que hoje casou novamente, e dispensaram a faxineira. Ou seja, ela voltou a cuidar de tudo sozinha apesar de ter uma filha em casa com vinte anos mas que não a ajuda como ela acha que a garota deveria ajudar. Já T. conta com uma empregada três vezes por semana e uma babá que cuida das meninas, que hoje tem 6 e 3 anos, além de contar com a mãe dela que vai alguns dias da semana na casa para cuidar e ficar com as meninas, além do pai das meninas que cumpre com seus deveres, paga a pensão e fica com as filhas nos dias que são seus dias de ficar com elas, por direito e determinação da justiça. Ou seja, ainda bem que há uma rede de ajuda para essa mães, que a meu ver são muito guerreiras. Pois, como disse no título, toda separação é dolorida. Mesmo quando você quer separar, todo o processo, que às vezes é longo, é dolorido. Você tem que abrir mão de uma vida, com a qual estava acostumada, vivendo com uma pessoa, dividindo tarefas com ela e de repente você se vê sozinha, com um ou mais filhos para você cuidar sozinha, mesmo tendo que manter todas as suas responsabilidades, como cuidados com a casa e o trabalho fora de casa. Eu comecei a pensar que se eu separasse hoje em dia, seria totalmente complicado, pois eu não posso contar com minha mãe, que sofre do Mal de Alzheimer. Poderia contar com minhas irmãs, pois essas sim são meu porto seguro, sei que quando necessito elas estão a postos para ajudar. Teria que manter a babá que cuida da Elena, e diminuir meus gastos, talvez morar em uma casa com um aluguel menor. Fazer uma terapia. Cuidar de mim e da Elena, já que muitas vezes a responsabilidade fica somente nas costas das mães. Todos meus aplausos e minha admiração a essas minhas amigas e a tantas outras mulheres que, após uma separação dos maridos, tomam todas as responsabilidades para si, para seus filhos continuarem a ser cuidados e crescerem com menos pesar possível, com menos sequelas possível. Mas sem sequela ninguém passa após uma separação. Mas ainda bem que há mulheres que tomam a frente e vão à luta. E não se entregam. Pelos filhos fazem todo o possível...e o impossível.....

Um comentário:

  1. Aleluia, arrumou um tempinho, kkkkkk!!! Aninha, acho que tem mais de 8 anos que a gente se conhece já, viu? O Nico tá com 7, separei do pai deles quando ele tinha 4 meses e nós já nos conhecíamos por rede social, logo na sequência da separação nos vimos pessoalmente. Fiquei emocionada e agradecida por ler a minha história por seus olhos. Acho que a vantagem que eu tenho de trabalhar com pessoas muito pobres e ainda por cima muito doentes é ver que sempre há alguém em situação imensamente pior que a minha. Então tudo se torna mais fácil. Você também trabalha para o serviço público, imagino que veja muitas pessoas em sofrimento. Então, amiga, nossa cruz não é lá tão pesada, dá pra levar. Adorei ler seu texto, acho que as leis são muito frouxas com aquele que não detém a guarda, que normalmente são as mães, e não há lei que obrigue um pai a cuidar de um filho, mesmo você entrando com uma ação de abandono emocional, o pai pode se safar com argumentos como jornada de trabalho, morar em outra cidade e nós, não temos por onde escapar. Um beijo grande para você e suas lindas filhas, um beijo para a minha querida M. e um beijo pra T. que eu não sei que é, mas beijo tb!

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