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Se depender de mim, nunca ficarei plenamente maduro nem nas ideias,

nem no estilo, mas sempre verde, incompleto, experimental.


Tempo morto e outros tempos

domingo, 7 de novembro de 2010

Se cada um fizesse sua parte

Na semana passada estava eu online no msn, conversando com meus amigos quando fica online um aluno da escola onde trabalho: o João. Já o citei em outros posts. Conversávamos sobre coisas cotidianas quando em determinado momento da conversa ele disse que faria algum mal a alguém, ou algo assim, não me lembro exatamente, e seguiu-se o seguinte diálogo:
João diz: Eu não faço mal para quem me ajuda.
Eu digo:Que bom, sempre tentei te ajudar né?
João diz: Você tentou não, conseguiu. Não sou mais o mesmo de antigamente.
Eu digo: Mudou como?
João diz: Mudei várias coisas em mim, parei de falar tantas gírias, estou mais calmo. Antes olhavam para mim eu já queria tirar satisfação, hoje não, hoje estou tranquilo. Você não percebeu mas entrou na minha mente depois que saí da escola. Falando todas aquelas coisas: tem que se esforçar, você não pode ser assim. Ah, sei lá de um jeito ou de outro você entrou na minha mente, na minha e na do Martins.
Eu digo: Então se cuida, meu querido. Obrigada por tudo que disse, de verdade.
João diz: Ah, não foi nada, aprendi com a melhor, Ana.
Depois desse diálogo nem precisava mais continuar com o texto, acredito eu. Mas eu continuo, comentando o porque do título e da foto que ilustra esse post. O título me ocorreu pois eu percebi que eu, depois de dois anos na escola, e de um ano lidando diretamente com os alunos da oitava série, consegui fazer alguma diferença na vida ou no modo de ser de um aluno, certamente, o João, e talvez de mais um, o Martins. Sinceramente, eu havia me desiludido com eles, achei que tinha gasto meu latim à toa, que havia, como dizem, jogado pérolas aos porcos. Mas não, pelo que João falou, eu fiz alguma diferença na vida dele. E se mais pessoas fizessem o mesmo por alguém, o mundo seria bem melhor de se viver.Quando ele leu o post abaixo ele disse: pode ter certeza, que quando você morrer, se eu receber a notícia, vou lá ajudar a carregar o seu caixão. É algo tão singelo, mas para o João, que era um garoto totalmente perturbado, bagunceiro, briguento, dizer umas palavras dessas já é uma mudança radical de postura de vida. Por que coloquei a foto de uma cena do filme Sociedade dos Poetas Mortos. Este filme fala sobre a relação de um professor contestador em uma escola extremamente tradicional. Nesta cena ele pedia para os alunos irem à frente da classe e proclamarem alguns versos, o aluno em questão, muito tímido, com medo de errar, por infinitas repreensões vividas ao longo de sua vida escolar, não consegue proclamar nada com sentimento, com alma. O professor insiste e ao seu lado o faz perceber que ele é capaz, que ele pode exprimir seus sentimentos, que não há certo ou errado, que o que vale é o que ele pensa. Pesquisando sobre o filme, para achar a imagem, deparei-me com o seguinte link: http://macondo67.wordpress.com/2009/05/25/sociedade-dos-poetas-mortos-1989/ e lá está escrito: Filme de grande apelo emocional, Sociedade dos Poetas Mortos tem uma mensagem muito clara: é preciso pensar a partir de nossas próprias reflexões (...) é uma obra que quer mostrar o quanto é necessário sair dos moldes estabelecidos para ter idéias originais e se tornar livre também. No entanto essa liberdade tem preço, e a responsabilidade talvez, possa ser uma das chaves para o sucesso do carpe diem. Enfim, assistir esse filme é uma questão de ganhar muito em cultura e lição de vida. 
Sendo assim, seguindo esta linha de raciocínio, acredito eu ter feito o João pensar nas responsabilidades da sua vida e talvez lhe tenha transmitido uma lição de vida.