Páginas

Se depender de mim, nunca ficarei plenamente maduro nem nas ideias,

nem no estilo, mas sempre verde, incompleto, experimental.


Tempo morto e outros tempos

domingo, 16 de maio de 2010

Mais uma vez o presente post surge de uma discussão em um tópico de uma comunidade do Orkut. A comunidade em questão denomina-se: Quem Odeia Polícia é Bandido. O tópico em questão colocou em discussão o caso de policiais da PM de São Paulo ter matado um motoboy que fugiu de uma barreira policial. A discussão, como sempre, rolou solta e até desbancou um pouco para o achismo e intrigas pessoais, mas enfim, analisando o tal tópico eu escrevi que:Eu creio que...
...tudo que fuja a um padrão, em nossa sociedade, é discriminado....e as pessoas estão intolerantes mesmo....esse é o grande mal....a vida não vale mais nada mesmo....matar ou morrer é tudo a mesma coisa.....acho que falta um pouco de valores nessa nossa sociedade...e isso sem educação não vai pra frente......... . Pesquisando sobre o assunto, que é de meu interesse já que sou educadora e já que trabalho na periferia de São Paulo, em uma escola municipal de ensino fundamental, que fica no coração de uma favela, no extremo sul da cidade, eu creio sim que pela educação iremos mudar o país. Trouxe alguns dados que corroboram com minha ideia. No site http://www.badaueonline.com.br/2007/4/20/Pagina21097.htm encontrei que De tanto conviver com atos violentos, a população está quase se acostumando com este modelo de sociedade. Ainda bem que tem o QUASE, pois sabemos que há muitos, dentre nós, que não aceitam esse “modus vivendi” e clamam por paz e justiça.

E o que isso tem a ver com educação?

Primeiro é importante ressaltar que a onda de violência é mais presente nas comunidades da periferia, onde os jovens, na sua grande maioria, têm baixo nível de escolaridade e, por isso, maior dificuldade de inserção no mercado de trabalho.

Sem trabalho e sofrendo uma forte pressão psicológica feita pelas propagandas que incitam o consumismo, a tendência é a busca pelo dinheiro “fácil” entrando no tráfico de drogas ou juntando-se a grupos de assaltantes. Por outro lado, a falta de uma família estruturada em valores morais e religiosos mais sólidos deixa os jovens à mercê de pessoas que os levam facilmente para o mundo do crime.

Além disso, a escola não consegue manter esses jovens dentro de seus muros, como mostrou uma pesquisa divulgada no Jornal Nacional em que a maior parte dos entrevistados afirmaram estar fora da escola por vontade própria.(...) Mesmo que a Educação não seja a única garantia de solução para o problema da violência, é certamente um dos caminhos para minimizá-la.

Nós, brasileiros e brasileiras, desejamos que os governantes passem a investir mais em educação, para podermos viver numa sociedade mais justa e pacífica.

Em outro site: http://www.adital.com.br/Site/noticia2.asp?lang=PT&cod=30297 encontrei alguns dados para confirmar a minha ideia de que é pela educação que poderemos minimizar o problema da violência nas cidades do país. O Brasil tem 11,5 milhões de crianças na faixa etária de 0 a 3 anos, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), mas só 13% delas estão frequentando creches (ensino infantil), de acordo com dados do Instituto Nacional de Ensino e Pesquisas Educacionais (Inep). Além de ser um direito das mães e pais, previsto na legislação trabalhista, a educação infantil é um direito fundamental da criança, conforme o próprio Estatuto da Criança e do Adolescente e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB). O ensino infantil é a base do aprendizado e do desenvolvimento da criança. Com relação ao ensino fundamental e médio, o País tem evoluído consideravelmente no que se refere ao aumento de vagas. Como exemplo, segundo o IBGE, 81% dos adolescentes com idades entre 15 e 17 anos freqüentam a escola. Porém, a qualidade do ensino e a grave situação social de muitos alunos geram enormes dificuldades de aprendizado, defasagem e evasão escolar. Uma pesquisa da Unesco (Fundo das Nações Unidas para a Educação), feita em 2005, nos 26 estados brasileiros, mostrou que muitas vezes a escola mais exclui do que inclui. Conforme o levantamento, 21% das crianças e adolescentes que estavam fora da escola já tinham abandonado o ensino anteriormente. Outros 14% já tinham deixado os estudos por três ou mais vezes. No que diz respeito ao ensino universitário, apenas 31% dos jovens com idades entre 18 e 24 anos têm possibilidade de acesso à universidade. Do outro lado do colapso educacional no País temos as prisões. Manter alguém na prisão é a forma mais cara de tornar a pessoa pior. O colapso prisional é reflexo da crise educacional e social que vive o Brasil. Quanto menos escolas e universidades são construídas hoje, mais presídios terão que ser construídos. Primeiro, temos que considerar que é uma grande contradição prender alguém para ensinar essa pessoa a viver em liberdade. Formalmente o sistema prisional tem a finalidade de privar, temporariamente, a liberdade de uma pessoa que, em razão da sua conduta e dos crimes cometidos, gera intranqüilidade social, apresenta periculosidade e representa risco a ordem pública. Essa pessoa precisa ser contida para ser reeducada e ressocializada através do estudo, do trabalho, da religião, do acompanhamento de saúde e psicológico e da compreensão da existência de leis e regras de convívio social. No entanto, ao invés de cumprir com essas finalidades, a maioria dos presídios e boa parte das unidades de internação de adolescentes infratores são verdadeiras faculdades do crime. (...)Os dados educacionais desses jovens mostram bem a relação: falta de educação X crime. Entre os adolescentes internados em 366 unidades brasileiras, 51% não freqüentavam a escola, 90% sequer concluíram o ensino fundamental e 85% eram usuários de drogas. Várias pesquisas já feitas com internos da Fundação Casa (ex-Febem de São Paulo) mostraram que os adolescentes mantidos lá são provenientes dos bairros com maior população infanto - juvenil, mas com menos oportunidades. Locais onde faltam creches, escolas, postos de saúde, áreas de lazer, cultura, esportes etc. Onde o jovem vai procurar emprego no comércio, na indústria e nunca tem vaga, mas na "boca de fumo" sempre tem. Vivem em contextos violentos, sem oportunidades e perspectivas, exceto o crime.
Umas das propostas muito discutidas para o fim da criminalidade é a diminuição da idade penal de 18 para 16 anos, no mesmo site citado acima diz que: Alguns Países que reduziram a idade penal há quatro anos atrás, como a Espanha e a Alemanha, verificaram um aumento da criminalidade entre os adolescentes e acabaram voltando a estabelecer a idade penal em 18 anos e, ainda, um tratamento especial, com medidas sócioeducativas, para os jovens de 18 a 21 anos.

Diante disso tudo, será que é melhor aplicar recursos em prisões ou em educação?

Eu ainda acredito que o melhor é se investir em educação, na construção de escolas, nas quais os alunos fiquem em período integral, com qualidade. Não só construir escolas e não investir nelas e nem na formação de quem as conduz. Professores que desejem educar e não só receber o parco salário no final do mês, diretores e coordenadores preocupados com o futuro dos alunos, oferecer oportunidades de vida prática para que eles consigam sobreviver, que tenham conhecimentos que sejam de seu interesse e não que lhes despejem um monte de conteúdo fora de sua realidade. Que dê, realmente, oportunidades a essas pessoas serem melhores no futuro e que não contribuam mais para com os dados estatísticos da violência e sim do crescimento do país.

E você, caro leitor, em que acredita?

sábado, 1 de maio de 2010

A contadora de histórias

Hoje assisti ao filme: O contador de histórias (Warner Bros, 2009)e a história é verdadeira, real, o que me trouxe um pouco de esperança. Para quem ainda não sabe eu sou educadora, trabalho como coordenadora pedagógica em uma escola no extremo sul da cidade de São Paulo, em um bairro periférico, portanto, e localizada no meio de uma favela. Trabalho, então, diretamente com meninos carentes. Carentes? Carentes não, extremamente carentes. Carentes de quê? Carentes de família, carentes de amor, carentes de carinho. Alguns ali já se perderam no meio do mundo hostil no qual eles vivem. No mundo de drogas, crime, roubo, assalto, pedofilia, maus tratos com crianças e adolescentes, no mundo do abuso sexual. Muitos deles por conta dessa carência, não escolheram o caminho ruim, eles foram impulsionados a ir para esse caminho ruim, muitas vezes as pessoas que os devia encaminhar ao caminho bom, é que os leva para o caminho ruim. Muitos deles são garotos sem alguma perspectiva de um futuro decente pelo caminho da honestidade, do trabalho árduo e dos benefícios que eu posso alcançar com o meu trabalho justo e minha atuação na sociedade como um ser humano.
No começo desse ano, alguns professores pediram que eu tivesse uma reunião com alguns alunos que, segundo eles, eram muito indisciplinados e que eles não conseguiam levar a cabo suas aulas por conta da falta de comportamento desses alunos. Eis que organizamos a devida reunião. Mas com alguns alunos eu conversei a sós, um deles em específico me chamou a atenção. É um garoto muito educado, extremamente educado eu diria, em comparação aos outros meninos daquela escola. Conversei com ele sobre o que ele tinha em mente ser quando se formasse, futuramente, na sua vida adulta. Ele simplesmente me respondeu: Não sei. Eu disse que objetivos ele tinha. Mais uma vez ele me respondeu negativamente, que não tinha objetivos na vida. Eu disse: Então por que você está estudando? Ele simplesmente deu de ombros e não falou mais nada. A postura de garotos como esse com o qual tive essa conversa é muito peculiar: olham para baixo, não te encaram, mãos para trás, em sinal de respeito. Por quê? Pois muito já tiveram passagem por alguma instituição de segurança, como a Fundação CASA, e lá é assim que eles têm que mostrar que respeitam as autoridades. Eu pedia insistentemente para que o garoto olhasse nos meus olhos enquanto falava, e assim ele o fez. Não sei se eu consegui sensibilizá-lo para algo. Mas eu sempre perguntava aos professores sobre ele. E eles me respondiam que ele estava um pouco mais calmo e melhor.
Diante dessa minha preocupação com o futuro dos adolescentes que estudam na escola onde sou coordenadora, elaborei um Projeto de Orientação Profissional. De 140 alunos apenas 20 se interessaram, e o que me deixou mais feliz: o garoto com quem conversei, se interessou e veio participar do projeto. A primeira atividade deles foi preencher uma ficha, pela qual eu iria conhecê-los mais um pouco, percebi que ele tem alguma dificuldade de escrita, mas que ele disse que está cursando informática e inglês e que parte do tempo livre dele, ele estuda, que gosta da temática da Astronomia e das Ciências da Natureza.
E o que isso tem a ver com o filme? Como o garoto do filme, que era um menino de rua, pois sua mãe o tinha abandonado na antiga FEBEM e foi recuperado por uma pedagoga, que acreditou nele, e investiu em sua formação. Eu acredito que o garoto da minha escola pode ser um futuro Roberto Carlos Ramos, o garoto retratado no filme, que ser formou em Pedagogia, e hoje é considerado um dos 10 melhores contadores de história do mundo. Eu desejo que o garoto da minha escola seja um Administrador, como ele disse que deseja ser, e eu vou me empenhar para que ele seja. Senão, se eu não fizer isso, minhas convicções e o juramento que fiz na Universidade não valerão de nada, se eu simplesmente fechar meus olhos e achar que tudo está correto. Não vou salvar o mundo, mas se eu salvar um aluno, eu já ganhei algo, meu trabalho já valeu a pena.