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Se depender de mim, nunca ficarei plenamente maduro nem nas ideias,

nem no estilo, mas sempre verde, incompleto, experimental.


Tempo morto e outros tempos

quinta-feira, 11 de junho de 2020

Devotees, pretenders, wannabees

Vamos falar sobre pessoas que têm interesse ou atração por pessoas com deficiência (PCD). Participando, atualmente, de alguns grupos, de pessoas solteiras ou não, que se reúnem para se conhecerem, reunidas por apresentarem uma característica em comum, que é uma ideia política mais à esquerda, percebi que não há muitas pessoas com deficiência, nesses dois grupos em que participo, até hoje, conversei somente com um rapaz, deficiente físico, que mora no Rio de Janeiro. Nos idos do final da década de 90 e início dos anos 2000, eu atuava bem mais nos movimentos em defesa dos direitos das pessoas com deficiência. Só para contextualizar, desde 2001, quando defendi minha dissertação de Mestrado, sou Pedagoga, Mestre em Educação Especial. Quando lecionava em uma faculdade na Zona Sul de São Paulo, a extinta Fintec, eu coordenei um curso de Pós-Graduação em Educação Especial, pelo qual eu era responsável por contratar os professores que seriam responsáveis pelas diversas disciplinas daquele curso. Nessa época eu me envolvi bastante com os movimentos que lutam pelos direitos das PCDs,conhecendo muita gente com deficiência. E nessa mesma época eu acabei me atualizando nos estudos e temas relativos às pessoas com deficiência. Por volta de 2003 conheci um rapaz, com deficiência física, e acabei "namorando" com ele, era um namoro a distância, já que ele morava em outra cidade, ele tinha uma banda e, sendo assim, veio uma vez tocar em São Paulo, nessa época eu morava lá, no centro de SP, portanto, ele ficou em minha casa e eu faria toda a logística de levá-lo ao show e acomodá-lo pelos dias que ficasse em São Paulo. Antes de conhecer essa pessoa eu não sabia que existia um público específico que se interessa por se relacionar deliberadamente com pessoas com deficiência. Fazendo uma rápida pesquisa, encontrei uma postagem em outro blog (http://www.bengalalegal.com/devotee) que explica os termos devotee, pretender e wannabee e aconselho vocês a lerem a referida postagem. Nela encontrarão que :
Descobri, a partir de minhas pesquisas, que além de não se tratar de "casos isolados", havia toda uma terminologia que definia o fenômeno e suas características. Existem os devotees que são pessoas (homens ou mulheres, hetero ou homossexuais) que se sentem sexualmente atraídas por pessoas com deficiência. Há também os pretenders que são pessoas que, além de serem devotees, sentem-se sexualmente estimuladas quando fingem ser deficientes, utilizando, em público ou privadamente, equipamentos como cadeira de rodas, muletas, bengalas, aparelhos ortopédicos. Além disso, existem os wannabes, que são devotees que desejam tornar-se, de fato, pessoas deficientes.
Com isso exposto, comecei a pesquisar e descobri que há aplicativos, hoje em dia, somente para pessoas que sentem atração por pessoas deficientes interagirem. Se colocar na busca do Google a palavra DEVOTEE logo o primeiro resultado é sobre um desses aplicativos (http://devotee.com.br/) cujo slogan é o melhor lugar para se conectar com pessoas especiais. Eu, particularmente, achei bem interessante, pois vemos que hoje em dia, ainda, em pleno século XXI, há preconceitos e falta de informações acerca das pessoas com deficiência. Na época em que estudei, me formei e terminei o Mestrado, ainda era um pouco de tabu falar da vida sexual das PCDs, e hoje em dia ainda há pessoas que acreditam que pessoas com deficiência são, em alguns casos, assexuadas, ou em outros casos, hiper sexuadas. Lembro-me da tese de Doutorado da minha orientadora de Mestrado, cuja temática era a sexualidade de pessoas com Deficiência Mental (não havia à época, ainda, o termo Deficientes Intelectuais, como é designada, hoje, a população com alguma deficiência que acomete o intelecto), na qual muitas pessoas acreditavam nessa díade sobre a sexualidade das PCDs. O que sabemos hoje é que as pessoas com deficiência têm sua estrutura sexual preservada, são plenamente capazes de amar, se relacionar, gerar filhos. Se vocês, caros leitores, fizerem pesquisas rápidas, vão descobrir isso, nem é tão difícil, hoje em dia, pois há muita informação a um toque dos dedos sobre a sexualidade de pessoas com deficiência. Vamos nos informar e respeitar, principalmente, todas as pessoas, as com deficiência e as que são atraídas por pessoas com deficiência, pois antes de tudo, são pessoas, e necessitam amar e ser amados em toda sua plenitude.

sábado, 6 de junho de 2020

Tempos e Amores Líquidos

Vamos falar sobre?
Como sempre meus textos, aqui no blog, surgem interações que faço em alguma rede social, ou com amigxs. A ideia de falar sobre Tempos e Amores Líquidos surgiu à partir de uma postagem em um grupo, que participo, na rede social Facebook. A Camila (nome fictício) postou o seguinte texto: Fiquei casada por muitos anos, e confesso que ando um pouco perdida a respeito dos relacionamentos atuais: Curtos, curtíssimos, ninguém quer investir tempo, entender o outro, abrir mão de pequenas coisas para construir algo juntos.
É assim mesmo? Esse é o novo normal? Já há algum tempo venho querendo escrever sobre essa temática, pois é algo que me afeta. Eu, como a Camila, também fiquei casada até 2015, quando tive uma separação meio traumática de um relacionamento tão traumático quanto seu fim. E sendo assim, fiquei meio preservada, meio fechada para balanço, como dizem por aí. E por causa dos traumas gerados por esse relacionamento e seu fim, por ter ficado em dificuldade financeira e com o psicológico totalmente abalado, eu me fechei, literalmente, para poder me reerguer. Quando comecei a fazer terapia com uma psicóloga especializada em atender mulheres vítimas de relacionamentos abusivos e depois de alguns meses de psicoterapia, comecei a trabalhar, na terapia, a questão de eu voltar a me ver como mulher e uma mulher que quer ter um novo relacionamento, que quer conhecer novas pessoas e se inter-relacionar com elas. A ideia da psicóloga foi a de entrar em alguns grupos ou sites de relacionamento, para novamente conhecer pessoas, já que minha vida real é bem conturbada e lotada de compromissos, porque eu tenho uma filha pequena que depende de mim e que cuido sozinha, o que demanda boa parte do meu tempo livre, ou seja, aquele que sobra depois que trabalho, cozinho e cuido da casa e de seus afazeres. Nessa nova etapa da vida eu fiz novas amizades, comecei a sair, para me divertir, fazendo passeios culturais ou gastronômicos, com minha família e com novas amigas. Nada que fosse para dar aquela saidinha para paquerar ou conhecer alguém do sexo oposto. E sendo assim, desde 2015 eu estou solteira e sem conhecer nenhum ser humano do sexo masculino que tivesse a pretensão de engatar um relacionamento sério. Os homens que tive a oportunidade de conversar queriam somente sexo, ou então, algo casual, sem nenhum compromisso. Por mais que coloquem em seus perfis que o objetivo é "buscar um relacionamento sério", não é verdade, na real. Muitos até me disseram que colocam isso para chamar a atenção das mulheres, mas que na verdade não querem compromisso. E se voltarmos à fala da Camila no texto que ela postou ela reflete bem o que penso sobre esses tempos de amores líquidos, ninguém quer se dedicar, ninguém que entender o outro, compartilhar seu dia, no máximo passar algumas horas juntos e de preferência, fazendo sexo, um sexo que também é casual, temporário, sem investimento algum. Foi bom? Pode até se repetir. Não foi? Eu acho outra pessoa para fazer sexo. E é só fazer sexo mesmo, sem vínculo, nem afeto.Dos 275 comentários, não fiz a contabilidade real, mas a maioria das respostas concordou com as perguntas feitas por Camila, que sim, é assim mesmo e que sim, isso é o novo normal, para a sociedade, mas muitas pessoas concordaram que não aceitam esse tipo de relacionamento e por isso ainda estão solteiras/sozinhas, porque não concordam com tais atitudes e tal tipo de relacionamento, tão sem afetuosidade e vínculo. E diante dessas ideias todas, eu fui pesquisar um pouco sobre o autor do livro Amor Líquido e o que ele tem a dizer e encontrei essa matéria da Revista Isto é

O sociólogo polonês, Zygmunt Bauman diz que vivemos tempos líquidos. Nada é para durar. Que triste essa frase, não é mesmo? Eu acho. Muito triste. Pois aprendemos que você investe esforço, para conquistar coisas, pessoas, para durar, um casamento, um relacionamento, você investe dinheiro para comprar uma casa, para ela ficar para seus filhos e netos quando vir a falecer. Não fomos criados para entender que as coisas não são feitas para durar. Bauman traz o conceito de modernidade líquida a qual designa como sendo seu conceito fundamental. É assim que ele se refere ao momento da História em que vivemos. Os tempos são “líquidos” porque tudo muda tão rapidamente. Nada é feito para durar, para ser “sólido”. Disso resultariam, entre outras questões, a obsessão pelo corpo ideal, o culto às celebridades, o endividamento geral, a paranoia com segurança e até a instabilidade dos relacionamentos amorosos, como citado na referida reportagem. Essa incerteza no porvir tem gerado reações adversas, nunca se viu tanta gente ansiosa, com síndrome do pânico, depressão, como vemos hoje. Claro, muitas dessas pessoas em tratamento, vivendo a base de remédio, psicotrópicos para poderem viver, minimamente bem. Minha avó, se fosse viva, diria: Que tempos são esses? Vivemos em um mundo em crise e Bauman diz que não são as crises que mudam o mundo, mas o que nós, seres humanos, fazemos diante da crise. Estamos vivendo agora, no Brasil, não só uma crise econômica, mas também uma crise na saúde e para "melhorar" uma crise política. Estamos vivendo em uma quarentena, devido ao vírus Corona e a doença que ele traz consigo a COVID-19, e fica o questionamento: o que faremos para mudar as nossas atitudes pós pandemia? Muitas pessoas dizem que não vêem a hora de tudo voltar ao normal. Qual normal? O que será normal depois da quarentena? Vamos ter que pagar para ver e talvez isso gere nova postagem nesse singelo blog. Mas, por enquanto, continuamos com a análise dos tempos líquidos e estamos vivendo isso intensamente nos dias atuais, pois não sobra outra opção para nós a não ser os contatos online. Tudo está online hoje, festas de aniversários, reuniões, trabalho, encontros entre amigos, lives de artistas, teleconferências....e a busca de relacionamentos, que acontecem offline, como uma fuga da realidade, pois se você não gostou da pessoa, simplesmente se desconecta, sem dar maiores explicações e logo em seguida engata outra conversa com alguém que lhe apeteça mais. Sobre isso Bauman diz que todo o problema é que, quanto mais você busca fugir dos inconvenientes da vida offline, maior será a tendência a se desconectar. Desconectamos do "felizes para sempre que tão bem ilustra os filmes românticos e os contos de fadas e alguns relacionamentos da vida real também. E disso sobra o quê? Os tais amores líquidos que Bauman designa como sendo:  um amor “até segundo aviso”, o amor a partir do padrão dos bens de consumo: mantenha-os enquanto eles te trouxerem satisfação e os substitua por outros que prometem ainda mais satisfação. O amor com um espectro de eliminação imediata e, assim, também de ansiedade permanente, pairando acima dele. Na sua forma “líquida”, o amor tenta substituir a qualidade por quantidade — mas isso nunca pode ser feito, como seus praticantes mais cedo ou mais tarde acabam percebendo. É bom lembrar que o amor não é um “objeto encontrado”, mas um produto de um longo e muitas vezes difícil esforço e de boa vontade. Para o sociológo ambos relacionamentos têm seus aspectos bons e ruins. O que ele define como um bom relacionamento é aquele pautado no amor. Que eu acho que é o que falta nesses tempos de amores líquidos, nos quais não há comprometimento, não há amor, talvez somente uma atração, que superada, o relacionamento é descartado. Pessimistas esses dizeres e pensamentos? Sim, um pouco. E não fica melhor quando pensamos no futuro. Segundo Bauman, ocupamos um mundo pautado pelo “agora”, que promete satisfações imediatas e ridiculariza todos os atrasos e esforços a longo prazo. Em um mundo composto de “agoras”, de momentos e episódios breves, não há espaço para a preocupação com “futuro”. Nenhuma luz no final do túnel. O que eu procuro fazer? Continuar tentando, tentando criar laços com amigos, tentando buscar um relacionamento que pense que vale a pena o esforço e a construção de uma convivência cotidiana. Fácil não é. Mas eu continuo, pois não tem caminho de volta.