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Se depender de mim, nunca ficarei plenamente maduro nem nas ideias,

nem no estilo, mas sempre verde, incompleto, experimental.


Tempo morto e outros tempos

sábado, 30 de maio de 2020

Se cada um respeitar a opinião alheia...

Se cada um respeitar a opinião alheia seremos um país melhor para se viver


Fui impulsionada a revisitar meu blog à partir do momento que estava participando das postagens em um grupo no Facebook, que não vou aqui citar qual, pois não fará diferença na história e não quero expor outras pessoas, mas vou descrever mais ou menos como é o grupo e qual seu propósito. É um grupo que reúne pessoas com pensamento político à esquerda, solteiras, casadas, mas com o intuito de ter um entretenimento respeitoso e sadio, com tranquilidade para abordar qualquer temática. Mas claro, que como em qualquer grupo, seja real ou virtual, sempre há pessoas que colocam em pauta temas não muito corriqueiros, ou considerados tabu. Eis que neste dia foi feita uma postagem que se referia à prática sexual do cunete. Para quem não sabe significa ato de buscar e dar prazer sexual com a boca e a língua no ânus da outra pessoa. Alguns chamam de beijo grego. E após a postagem, obviamente houve vários comentários, muitos, mas muitos mesmo a favor. Até aí a coisa corria solta, leve, cada um comentando, dizendo que já fez, que sente saudade dessa prática (afinal estamos em quarentena e as pessoas solteiras não têm saído, nem encontrado pessoas e nem praticado sexo). Tudo fluía, pois os comentários privilegiavam a prática de tal ato. Até que alguém postou algo contra a prática. Alguns postaram, simplesmente, que não faziam. Outros porém expressaram o porquê de não praticarem tal ato, como sendo algo nojento e porco. Uma pessoa até disse que não comia cocô para fazer tal ato. Aí acabou, né gente? Acabou a paz instaurada, pois as pessoas, mesmo as ditas tendentes à uma visão política à esquerda, ou seja, uma visão mais macro, coletiva e democrática, não aceitam visões ou posições, sejam referentes a qualquer assunto, contrárias às suas. Aí algumas pessoas comentaram que era mimimi e falta de maturidade falar contra tal prática. Eu fiz questão de ler todos os comentários, e em nenhum momento houve mimimi e ninguém xingou ninguém, ninguém disse afirmativamente que quem pratica tal ato é porco ou nojento, mas foi assim que as pessoas, que tinham se colocado a favor do cunete, interpretaram. Quando eu, incomodada com tais atitudes - pois como uma pessoa com pensamento político à esquerda, qualquer manifestação contrária à democracia, me irrita um pouco - resolvi responder com este texto: Sou a favor da democracia, sempre. Então posso não concordar com o que a pessoa diz, mas sempre vou lutar pelo direito dela dizer. Sendo assim, em um tópico que pergunta se fariam certa ação ou não, todos têm direito a responder, se sim ou não e fazer os mais diversos comentários. Temos que respeitar quem diz que faz e porque gosta de fazer, como também respeitar quem diz que não faz e porque não gosta de fazer. Acredito que isso seja maturidade e democracia. E assim criamos uma sociedade melhor para nós vivermos. Nenhuma resposta é mimimi ou afronta. Eu, ao menos, penso assim. Depois disso foi uma enxurrada de outros comentários dizendo, por exemplo, que quando a pessoa diz que não come cocô para fazer tal ato significa que quem faz tal ato come cocô. Onde está escrito isso, gente? Eu e muitos amigos meu dizemos que o que falta para vivermos bem é interpretação de texto. As pessoas precisam ler mais e interpretar mais textos, sejam eles quais forem. As pessoas te acham legal enquanto você fala o que elas querem ouvir, à partir do momento que você se coloca contra, não é tão legal assim e no caso da postagem, as pessoas se colocaram contra, pois era o que a postagem perguntava: você faria ou não cunete? Aí diante da confusão causada eu me lembrei do jornal Charlie Hebdo e de uma charge, que em 2015, causou um atentado terrorista contra o escritório de tal jornal. A charge que causou tudo isso foi a da foto postada acima. E na época esse atentado causou muita comoção, tanto que houve uma campanha, no próprio Facebook, onde as pessoas postavam a hashtag somos todos Charlie ou modificavam a foto do perfil com a foto da pessoa subposta pelas cores da bandeira da França. Eu inclusive mudei minha foto do perfil na época. Por quê? Porque eu acredito que todos podem falar, desenhar, escrever o que quiserem, que em um mundo desenvolvido e democrático, isso é o que deve acontecer. Se eu não sou a favor do que dizem ou escrevem, eu escuto ou leio e ignoro, sigo minha vida e isso não me afeta. E pensando exatamente nisso eu fiz nova postagem para responder às pessoas que foram contra o que eu respondi antes e escrevi: Exato, cada um fala e faz o que quer....Lembro do atentado ao Charlie Hebdo, por ter feito uma charge sobre religião, discuti o caso com meus professores e alguns eram veementemente contra a charge, mas pelo menos não concordavam com o ataque terrorista, porém eu acredito que o jornal pode fazer a charge que quiser, eu que não tenho que me melindrar com ela. E se cada um fizesse isso, o mundo teria mais paz. Sou religiosa? Sim? Olho a charge e sigo a vida. Posso até me colocar contra se fazer uma charge assim? Posso. Mas nem por isso vou reprimir as pessoas de fazerem. Só sigo minha vida. Se a pessoa falou que fazer cunete é comer merda, opinião dela, eu não acho isso e pronto, ela segue com a vida dela e eu com a minha. Militância para quebrar tabus não surtem muito efeito quando atacam ao invés de compreender e explicar. Por que citei que militância para surtir efeito tem que compreender e explicar? Pois em outro tempo, acredito que nesse mesmo grupo, houve uma postagem meio arrogante sobre a militância a favor de pessoas assexuais, querendo ditar uma regra, como se no mundo só houvesse uma opinião ou um só tipo de conduta. Acabamos conversando com a pessoa autora da postagem, por meio de comentários e logo em seguida ela fez uma outra postagem explicando o que era e como era ter uma vida sem a necessidade de um relacionamento pautado no sexo e isso foi legal, isso acredito que fez mais diferença do que atacar as pessoas e dizer que estavam erradas em não concordar com este estilo de vida. Eu acredito nisso, na militância pela compreensão e explicando cada uma das posturas. E como eu disse antes: posso não concordar com o que você diz, mas vou sempre lutar pelo seu direito em dizer. Até a próxima postagem...espero que não demore mais três anos...kkk