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Se depender de mim, nunca ficarei plenamente maduro nem nas ideias,

nem no estilo, mas sempre verde, incompleto, experimental.


Tempo morto e outros tempos

quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Minha aventura pelo HSPM - Parte 2

Pois bem, caros amigos, aqui estamos reunidos para a continuação da minha SAGA PELO HSPM. Então, relembrando, eu teria que me internar e me submeter ao procedimento de curetagem. Voltei no outro dia, depois de organizar a minha vida e da Elena, verificar com quem ela ficaria, quem a buscaria e levaria até a escola e etc e tal....Cheguei lá cedo. Passei no PS, fiz minha entrada no hospital e subi ao oitavo andar. Cheguei lá, entreguei minha ficha e....já sabem né? Até que fui chamada, e ...tchanã....por outra médica e não o que me atendeu ontem. Ou seja....tive que contar a mesma história, tudo de novo, ela me fez as mesmas perguntas. Por que, caros amigos? Porque a ficha do dia anterior, após consulta, deve ser abduzida, ela não caminha junto com seu atendimento, atendeu, acabou o dia, acho que eles comem as fichas, abre-se uma nova ficha e assim vai. Ok, expliquei tudo de novo e ela...me examinou de novo. Mas essa mulher era uma grossa de mão cheia, estúpida, cara fechada, não me deixava perguntar nada. Me examinou e disse: Espere aqui que eu já volto. E demorou milênios, mas voltou e disse: você terá que tirar sua roupa, deixar com seu acompanhante e voltar pra cá. Tipo, eu estava com um acompanhante. E se estivesse sozinha? Tipo, ela só dá ordens, não pergunta nada, não quer saber de você, quer resolver o problema dela. Coloquei aquele avental suuuuper degradante de hospital, com a abertura para trás. E fui entregar minhas coisas para minha acompanhante. E dali em diante fiquei incomunicável, e só sairia dali quando se efetivasse todo o procedimento da curetagem, que não consiste em te bodear e colocar a cureta em você e te cutucar até tirar tudo de dentro do seu útero. Não, caros amigos!! No meu caso, como o feto já está formado, o lance é pior, se é que isso pode ser pior do que o já mencionado, mas é pior. Por quê? Porque eu tenho que ter um parto do meu feto morto para depois então fazer a curetagem propriamente dita. Ou seja, é um procedimento deprimente. Deprimente no sentido de deprimir mesmo. É muita violência psicológica. Eu achei. A médica me mandou para uma sala onde já havia duas pessoas deitadas em camas hospitalares. Estava super apertado. E eu tive que deslocar uma cama para poder sentar. Euzinha, sozinha. No que vieram duas enfermeiras, Camila e Alessandra, super eficientes. A Camila punsionou minha veia para colocar o acesso e fez direitinho, nem hematoma tenho. A Alessandra super simpática, ficava conversando conosco o tempo todo. Gostei dela. Depois de um tempo, colocado o soro para hidratar minha veia, veio a médica com um comprimido na mão e disse: vou colocar esse comprimido em você e temos que esperar você começar a ter contrações. Ok. Vamos lá. Nessa hora, mano, você só quer acabar com aquilo logo. Eu sou falante, como sabem, e não consigo ficar taciturna num momento desses, aí que falo mais e tento me distrair. Pois bem. Esse procedimento começou era mais ou menos meio dia. Quando foi umas 17h nada de contração e nem dilatação. A médica volta e coloca mais um comprimido. 18h30 troca o plantão e vem outra médica, passam o caso para ela, como se você não estivesse ali: aquela é a Ana Cristina, ela teve um aborto retido, quadrigesta, com dois partos, coloquei miso duas vezes já esperando dilatar e expelir.....E eu mentalmente dizendo: Ei, hello, estou aqui, falem comigo e não de mim....Mas tudo bem. A médica que veio chamava-se Cristiane, suuuuuper mega competente, um pouco sisuda, mas sabia do que falava. Ela chegou e disse: Ana Cristina, vou te examinar, e lá vai a festa da uva, todo mundo pondo a mão dentro de mim...Assim não dá, minha gente...mas é o procedimento. E ela disse: seu colo está querendo começaaaar a dilatar. Quase pulei da cama e disse: começaaar?? Cara, estou aqui desde meio dia, morrendo de fome, pois estava em jejum desde às 20h do dia anterior e você vem me dizer que ele tá COMEÇANDO a querer dilatar. Cara, essa é outra hora que se eu tenho uma arma sei não...Mas eu respirei e sorri. Tipo pinguins de Madagascar: sorria e acene. Foi o que fiz. Logo depois chegou um outro médico, que acho que era o chefão da parada. E perguntou para a Doutora Cristiane os casos e ela explicou para ele meu caso. E ele perguntou: o que você pretende fazer? E ela: soro e oxicitocina pois já foi colocado dois miso e nada do colo dela dilatar. E eu mentalmente, de novo: I'M HEREEEEEEEEEEE!!!!  E lá vem as novas enfermeiras, que não perguntei os nomes, com o soro e a oxicitocina. Cara, esse remédio é do demo. Ela colocou o soro em mim e dali uns 5 minutos começaram umas contrações muito FDPs. Eu me contorcia toda. Minha irmã pode vir me ver por uns 5 minutos e eu falando com ela e me contorcendo. Minha irmã foi embora e eu lá, me contorcendo. Cansei, toda dolorida, morrendo de fome e os caras ainda vão jantar, esquentam o jantar no micro-ondas, na copa, em frente à sala que eu estava. PORRA MANO, to com fome, em jejum!! Sacanagem!!! Pois bem, eu com dor, perguntei pra médica se podia me sentar, ela disse que sim, só não podia andar. Pedi para ir ao banheiro e voltei, fiquei sentada, parecendo uma autista, fazendo balanceio de corpo, para passar a dor. Senti um tum dentro de mim e uma água escorrendo. Chamei a enfermeira, que da porta mesmo me olhou e disse: espera a médica vir te ver, mas ACHO que isso é normal. A médica não veio, fiquei com aquela água no meio das pernas, elas dobraram meu lençol e lá eu continuei, deitei, quer dizer, recostei na cama e senti algo descendo, quente, muito quente. A médica entra e diz, num tom meio alto: ela expeliu. Eu não sabia se dava graças, ou se dizia, você está falando do meu filho, morto, porém meu filho, fale com cautela, por favor. Mas não pensava em nada, somente em agradecer a Deus, pois havia rezado tanto, o tempo todo, para que tudo corresse bem e aquele sofrimento passasse logo. E eu sabia que depois da expulsão do feto morto poderia fazer a curetagem. Sabe que horas eram isso? Meia noite. Ou seja, fiquei lá do meio dia até meia noite para que a curetagem fosse feita. A médica pegou meu feto e me disse: quer ver? Senão vou colocar no saquinho (pois eles fazem análise do feto morto, creio que para saber as causas do aborto, não sei ao certo). Fiquei em dúvida, a moça que estava na cama ao lado disse: não veja não, você depois vai ficar com essa imagem na cabeça. E eu não quis ver. Ela levou meu feto embora, voltou, tirou a placenta e tudo o mais e depois me levaram para a sala de cirurgia e parto. E eu olhei pro teto, respingado de sangue....Ecate de novo! Meu, não dá pra limpar isso aí não?? Custa?? Pois bem, a anestesista chegou, me sedou e não vi mais nada até às 2h quando acordei da sedação e a enfermeira disse: só posso te levar pro quarto quando você conseguir dobrar os joelhos. E nada....eu mandava meu joelho dobrar e nada, por causa da raqui. E a morfina que me deram, me coçava inteira. Que sensações horríveis. E eu lá, meio dormindo meio acordada fui tentando mexer minhas pernas, até que consegui. Chamei a enfermeira que veio verificar se eu dobrava mesmo. A enfermeira que tomava conta das auxiliares, a Marilene, uma pessoa excelente, até a elogiei, veio me explicou todo o procedimento, que tinha sido efetivado com sucesso e o que aconteceria dali pra frente. E eu querendo comer a parede de fome, nem ouvia mais o que me diziam. Pois bem, a auxiliar verificou que eu realmente estava dobrando os joelhos e disse: vou te levar pro quarto rapidinho pois aquela lá (outra mulher que estava no pré parto urrando) logo logo vai parir. E ela me levou pro quarto. Duas enfermeiras me acolheram. Comecei a passar mal, vomitei. A enfermeira perguntou desde quando eu não comia. Respondi  e ela disse: vou ver se tem chá e bolacha e trago pra você. Administrou plasil. E eu capotei. E o chá to esperando até hoje...uahahahhahaa...Bem. Acordei. Me deram café da manhã, tomei banho, escovei dentes, virei gente de novo. Me deram dipirona. E eis que vem o chefão da máfia dos médicos com os residentes. Param na frente da minha cama. Ele pergunta como estou, se passei bem e se vira para os residentes e diz: Agora vamos ter aula de aborto. E começa a fazer perguntas para os residentes. E explicar as coisas. Eu gosto de aprender, então fiquei atenta à aula. Mas que é uma situação estranha, é. Foram embora. Depois o nigeriano que me atendeu no primeiro dia veio perguntou como eu estava, se havia comido e disse que eu estava bem. E eu perguntei a que horas teria alta. Ele: meio dia. E eu UHUUUUUUUUUUUUUUUU.... A nutricionista veio. A psicóloga veio. O mundo veio falar comigo. O papa veio...kkkk...não, o papa não veio. Mas enfim. Meio dia não chegava nunca. Chegou o almoço. Almocei. Esperei. Combinei com minha irmã de ir me buscar. Tudo e nada da alta. Quando vi no quarto ao lado uma moça que tinha dado entrada junto comigo no dia anterior. E ela também estava esperando a alta. Quando vimos o médico saímos as duas pro corredor e ficamos esperando ele assinar a alta. Assinou. Ufa! Vamos embora daquele tormento todo. Mas o que eu pretendo com esse posts é dizer que o HSPM é meio desorganizado, é sujo, é...mas os profissionais que lá estão, em sua maioria, são super competentes. Alguns de cara fechada, alguns te tratam com desdém, mas eu tive sorte, pois todos que me atenderam, exceto a primeira ginecologista, foram muito atenciosos, e a Doutora Cristiane, muito competente, tudo que ela me explicou, aconteceu exatamente como ela explicou. E por isso tenho consideração. Fui bem cuidada, o procedimento foi feito de forma eficiente e estou viva. Superando minhas dores, físicas e psicológicas, mas isso é comigo agora.

Minha aventura pelo HSPM - Parte 1

Esse post vai ser looooooongo...preparem-se.Como vocês sabem, ou se não sabem, ficarão sabendo, sou funcionária pública da prefeitura de São Paulo, portanto, sou funcionária pública municipal, e, assim sendo, posso usufruir dos serviços médicos prestados no Hospital do Servidor Público Municipal, o famoso HSPM. Ingressei, por concurso público, na Prefeitura de São Paulo, no ano de 2008, mais precisamente no dia 26 de agosto de 2008, dia do aniversário da minha filha mais velha. E desde então, como sempre tive convênio médico, primeiro de minha parte, pois lecionava na extinta Uniban e depois por parte de meu marido, que trabalhava em empresa privada, nunca utilizei os serviços médicos daquele hospital acima citado. Mas, hoje em dia, estou sem convênio médico e portanto, precisei utilizar-me dos serviços do HSPM.  E lá fui eu. Como vocês sabem também, engravidei, agora no meio desse ano e com três meses de gestação sofri um aborto espontâneo, algo que não desejo para mulher alguma, um processo muito doloroso, não fisicamente falando, somente, mas psicologicamente falando. E por causa desse aborto precisei utilizar os serviços do HSPM. Cheguei lá e fui fazer minha carteirinha, pois sem isso você não existe para o hospital. Ok, até que foi rápido e a moça que me atendeu foi super prestativa e atenciosa, me explicou exatamente como funcionava o hospital e o que eu deveria fazer e onde eu deveria ir. A primeira coisa que eu deveria fazer era ir dar entrada no PS, pois meu caso era de emergência, como era uma emergência ginecológica me enviaram para o quarto andar, onde existe o atendimento da clínica de ginecologia. Chegando ao quarto andar perguntei para umas três pessoas onde era o atendimento do PS  de ginecologia e ninguém sabia. Até que me informei com a moça que estava entregando exames, e algo engraçado até aconteceu, quando ela perguntou porque eu queria o PS de Ginecologia, eu respondi: sofri um aborto espontâneo. E a mulher olhou para minha barriga. Tipo, ela queria ver com sua visão de raio X se eu sofrera mesmo o aborto? E isso aconteceu mais umas duas vezes na minha aventura pelo HSPM. Pois bem, a moça me disse: emergência ginecológica é no oitavo andar. Fui para o elevador, e pedi: oitavo andar. A ascensorista disse: você teve bebê? Eu: Não, vou para a emergência ginecológica. Ela: Ah, então é o outro elevador que você vai pegar. Puta merda! Que outro elevador, cazzo? Ela: pergunta para o segurança. E lá fui eu perguntar para o segurança. E ele me indicou o caminho do outro elevador, os elevadores eram os B e C. E eu lá sabia que tinha letra pra elevador! Me poupem! É a primeira vez que venho nessa joça. Ufa. Ok. Cheguei no dito oitavo andar onde se atende emergência ginecológica. Eu já tava puta né? Pensa em você passando por todo esse sofrimento psicológico e ainda passar por essa andança dentro do hospital...Ahpapu! Vamos lá que a saga apenas começou. Cheguei lá e entreguei minha ficha e espera, espera, espera, espera milênios. Cara, você irá cansar muito de esperar, leva seu livro, sei lá eu o que, mas leva algo para você fazer, porque sua bunda ficará quadrada de tanto que você irá esperar. Eis que, depois de horas, meu lindo nome é chamado para a consulta. Ok de novo. O doutor é nigeriano. Até aí, beleza, sendo bom pode vir de onde vier, até ser um ET. Vai resolver o problema? Então tá valendo. Mas o porém é que....eu não entendia o que o cara falava, mano. O sotaque era muito estranho e ele falava baixo ainda por cima, pra ajudar...Enfim, entendi que ele queria me examinar. Fui tirar a parte de baixo das minhas roupas em um banheiro, vamos dizer, no mínimo, imundo, com insetos mortos por todo o lado. Ecate! Mas tudo bem. Você está em um hospital público mal cuidado. Devia ser melhor, mas não é. Fecha o olho, segura na mão de Deus, e VAI! Aí o médico: senta aí e coloca as pernas ali. Mulheres, vocês sabem, o que é aquela cama ginecológica. O fim dos tempos. Homens, vocês não têm ideia do que é aquela cadeira. Vexame total! Mas enfim...é nela que eu tive que subir. O cara foi educado, pedindo licença e explicando o que estava fazendo comigo: com licença, vou colocar o espéculo. Com licença, vou fazer um exame de toque...Ok, é o protocolo e acho que um pouco de educação, mas o que não diminui a péssima sensação, a dor e a vergonha. Depois de me examinar ele disse que eu teria que fazer uma nova ultrassonografia, pois já havia feito uma aqui em Guarulhos, para confirmar o aborto. Oi? Mas enfim. Espera...espera...espera...mais dois milênios. Ele até disse: Pode ir comer e voltar que a ultrassonografia só chamará à partir das 14h30. E aquela hora marcava 13h. Portanto, fui comer. Depois voltei ao dito oitavo andar e ...já haviam me chamado. Ahpapu de novo. Nem 14h30 eram. E a moça falou: hoje eles chamaram mais cedo. Me fala se isso tá certo ¬¬...beleza...ela disse, tudo bem, só esperar a enfermeira voltar e te chamar novamente. A enfermeira voltou e me chamou novamente. Descemos e espera espera espera...fiz a ultrassonografia...Espera um pouco que já já sai o laudo e você volta para o oitavo andar. Três pessoas dentro da sala, conversando e rindo. E eu ainda fui abrir minha boca e disse: o povo fica conversando e rindo e meu laudo sair nada, vai ver que perderam. Até que uma das pessoas que estava dentro da tal salinha vem até mim e diz: seu laudo saiu, pode subir. A enfermeira me levou pra cima novamente. Aí espera espera espera e o médico me chama novamente. Abre o envelope e...tchanãnãnã...Cadê o laudo?? Não estava dentro do envelope. Agora me diz: se a pessoa tá armada numa hora dessa, desce a bala no médico, cacete!!! Como eu não estava armada, voltei pra sala de espera e....espera...espera...espera....Eis que o médico me chama de novo e diz: Realmente, você está grávida, porém seu bebê está morto. E eu falando mentalmente: Ok, me conta uma novidade agora. E ele me contou: você terá que ficar internada e fazer uma curetagem. E eu: Hoje não posso, tenho uma filha de dois anos e preciso organizar minha vida. Posso voltar amanhã? Ele: pode, vou deixar avisado aqui. Amanhã você volta, passa no PS de novo (esse PS na verdade significa: Porta para o Sacrifício....só pode) e sobe aqui. A saga continua, no próximo post.....continuem lendo para saberem como terminou....=)