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Se depender de mim, nunca ficarei plenamente maduro nem nas ideias,

nem no estilo, mas sempre verde, incompleto, experimental.


Tempo morto e outros tempos

domingo, 30 de setembro de 2012

Um sonho começando a se realizar...

Tudo vale a pena se a alma não é pequena já disse o grandioso Fernando Pessoa. Essa máxima vale muito em todos os aspectos de minha vida. Para quem não sabe sou Coordenadora Pedagógica em uma escola pública municipal na cidade de São Paulo. Para quem, também, não sabe o Coordenador Pedagógico é o responsável por toda a parte pedagógica de uma escola, pela formação dos professores, para que estes tenham excelente desempenho em sala de aula para fazer com que os alunos, que nem sempre querem, aprendam, da melhor forma possível. Desde que iniciei neste cargo, após concurso público, trabalhei em escolas com baixos índices de aprendizagem dos alunos em provas oficiais. Foram duas escolas, ditas prioritárias, ou seja, como já disse, escolas com baixos índices nas provas oficiais e no IDEB. São escolas que têm grandes dificuldades. A escola em que trabalho hoje em dia fica na Zona Norte de São Paulo, ao lado de um projeto Singapura, que quem não se lembra, é um projeto de urbanização de favelas iniciado no governo Maluf. Um dos alunos da escola chegou a ganhar um prêmio nacional, nas Olimpíadas de Língua Portuguesa por ter escrito, com base na música Saudosa Maloca dos Demônios da Garoa, um poema sobre como foi o processo de urbanização da favela que hoje é um Singapura. Neste caso a favela foi urbanizada e foram trazidos para morar nos apartamentos, não necessariamente as pessoas que moravam na favela mas sim pessoas de outros bairros, sem teto. Alguns alunos, portanto, têm como herança o não reconhecimento do bairro como seu, pois não era deles inicialmente. Não há além disso uma identificação com a escola. Muitos alunos, é sabido, não veem a escola como espaço para aprendizagem formal, cultural que lhes trará algum benefício. Por esse motivo é muito difícil dar uma educação de qualidade para esses alunos que não valorizam a escola como espaço de aprendizagem e nem o trabalho dos professores como facilitadores de suas aprendizagens.
Eu acredito na educação como promoção social, ou seja, por meio da educação a pessoa tem acesso a âmbitos que não seria possível sem ela. Mas acredito também na escola como espaço de aprendizagem lúdica, funcional, prazerosa, útil. No ano de 2010, criei um espaço de formação para alunos de oitava série na escola em que eu trabalhava. Às sextas-feiras, após a aula, os alunos ficavam por mais uma hora comigo, aprendendo sobre profissões, currículos, habilidades para um futuro profissional. O projeto culminou com a apresentação de diversos profissionais que foram lá, para falar com os alunos, e dar a eles uma demonstração do caminho percorrido para chegarem a ser os profissionais bem sucedidos que são. Foi muito bom, houve um reconhecimento por parte dos alunos muito significativo, diferentemente do reconhecimento por parte da direção que foi quase nulo, mas isso é assunto para outra postagem. Hoje, na escola em que atuo, tenho o mesmo cenário que tinha na escola onde eu trabalhava no ano de 2010. É uma escola que fica em um bairro muito carente da cidade de São Paulo, um bairro de fronteira com a cidade de Guarulhos. Com baixos índices de aprendizagem e com alunos ávidos por fazerem, trabalharem, produzirem, mas do jeito deles, obviamente, o que não implica em ficar 5 horas sentados em uma sala de aula prestando atenção em um professor falando na frente da lousa. Neste segundo semestre do ano de 2012 eu e os professores participantes do horário coletivo decidimos trabalhar o tema lixo e reciclagem com os alunos nas aulas de Ciências, Arte e Língua Portuguesa. Para tanto assistimos ao maravilhoso filme O lixo extraordinário que conta a história do trabalho realizado pelo artista plástico brasileiro Vik Muniz em um lixão do Rio de Janeiro, o lixão de Gramacho, que foi fechado neste ano de 2012. Como temos vários alunos da EJA (Educação de Jovens e Adultos) que trabalham na cooperativa de reciclagem que fica em frente à escola, decidimos que este tema seria muito interessante ser trabalhado pelos alunos e professores. O professor de Arte disse que já pensara em trabalhar o tema, mas relacionado à moda, e que culminaria em um desfile na escola com os alunos vestindo roupas customizadas e recicladas. Casamento perfeito. Comecem os trabalhos! A professora de Ciências produziu, junto com os alunos, várias peças de bijuterias e decoração com os alunos a partir de revista e jornal. Enquanto o professor de Arte produzia roupas customizadas e recicladas com os alunos das séries do Ensino Fundamental II e da EJA. Enquanto as professoras de Língua Portuguesa trabalhavam textos, poemas e prosas que tinham como tema o lixo. Foi grandioso o trabalho de um bimestre inteiro. Agosto e setembro foi dedicado ao lixo na escola! E o resultado disso tudo aconteceu no último dia 27 de setembro, durante todo o dia, todos os alunos e professores bem como funcionários e equipe técnica fizeram com que o sonho começasse a se realizar. Foi realizado neste dia o Frei Fashion Week. Acredito que esse foi o primeiro passo para a melhora da escola, da auto-estima dos alunos e professores, bem como o reconhecimento de que um trabalho de equipe concatenado e interligado faz toda a diferença. O evento foi classificado como perfeito! Todos os alunos colaboraram e se organizaram, não fazendo feio, pelo contrário fazendo muito bonito. Abrilhantando ainda mais todo o trabalho que foi feito antes do evento acontecer. Obrigada aos professores, alunos e equipe! A realização do sonho de tornar o Frei uma escola melhor deu seu primeiro passo de muitos outros que virão. Com sucesso absoluto!

2 comentários:

  1. Muito bom !! É assim que a gente vê o quanto nosso trabalho é importante e pode ser transformador !! Parabéns !!

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