Páginas

Se depender de mim, nunca ficarei plenamente maduro nem nas ideias,

nem no estilo, mas sempre verde, incompleto, experimental.


Tempo morto e outros tempos

sábado, 26 de junho de 2010

Confiança

Antigamente, como já disse em post anterior, os cavalheiros selavam seus acordos com base em suas palavras e no aperto de mão, era o selo que determinava que ambas as partes iriam cumprir com seus acordos, por isso hoje, quando vai se autenticar algum documento no cartório cola-se um selo que comprova a autenticidade do que está escrito no documento. Após Martins, João e Marcos irem à minha sala, fizemos um acordo de confiança. Para que haja melhora eu tenho que confiar que eles irão mudar e eles têm que confiar que eu estou lá para ajudá-los na caminhada. No dia seguinte a este fato, houve um boato de que a TURMA DO MARTINS (como os funcionários e professores chamam os meninos bagunceiros da 8ª A) estavam com bombinhas e que iriam soltá-las na escola. Na hora do intervalo, portanto, a assistente de direção ficou o tempo todo atrás deles, onde eles iam, ela ia atrás. Até que enquanto eles estavam num extremo do pátio, em outro extremo soltaram a bombinha. Ou seja, não foram eles que estavam com bombinha. A professora que iria entrar na referida sala após o intervalo pediu para que eu a acompanhasse, fiquei lá todo o tempo da aula, após a aula tive uma conversa séria com os alunos, chamando, também, para isso, as duas assistentes de direção. Fomos bem sinceras com eles, dissemos que eles estão com fama de bagunceiros, que queremos mudar isso diante dos professores, pois acreditamos neles, e queremos que eles sejam ótimos alunos e ótimas pessoas quando saírem da escola. Falamos que estamos com as portas abertas para quando eles tiverem alguma proposta de melhoria da escola, para quando eles quiserem fazer alguma reclamação com fundamento e que tragam proposta de melhora. Acabou a aula, eles foram embora. Estávamos no pátio conversando: eu, as duas assistentes de direção e a diretora, quando vimos Martins e Marcos indo em direção à quadra da escola, desconfiamos que eles fariam alguma coisa errada. Até nós estamos desconfiando, pois nos falam tão mal deles. Fomos lá fora e eles disseram que não iriam fazer nada, que só foram ver a quadra, quem estava lá. Eu fui lá conversar com eles, pois eles não iam embora. A diretora achou que eles queriam falar alguma coisa e não sabiam como chegar na gente. Como eu já trabalho com eles, eu fui lá, cheguei perto e perguntei se eles queriam falar alguma coisa, ficamos conversando e João me disse que eles tinham sim levado uma mistura de farinha com ovo para tacar nos alunos de outra oitava série, que declarou guerra para com a sala dele. Chamei um menino da outra sala e falei para os dois que a guerra tinha acabado, que os dois lados iriam parar de fazer bagunça, conversei bastante com eles, eles me contaram diversas coisas, a revolta deles eu sei de onde provém, eles se despediram e eu fui conversar com uma das assistentes e com a diretora e disse que podemos confiar neles e que eles irão melhorar. Mas é uma luta!! E que se não tivermos e não mantivermos essa confiança que eles adquiriram em mim, não conseguiremos recuperar esses meninos. Por isso eu confio e continuo investindo no Martins, no João e no Marcos. Até o final do ano quero fazer um pouco, ao menos, de diferença na vida deles...

Caminhada .....

É, caros leitores, como dizem, eu sou brasileira e não desisto nunca. Por isso estou aqui escrevendo novamente. E hoje a história vai ser longa. Lembram-se do último post no qual eu escrevi sobre a decepção que tive com o Martins? Uns dias após aquele acontecimento, os professores que lecionam para o Martins e o João chamaram, sem meu consentimento, a diretora para o nosso horário coletivo de formação. E qual não foi meu espanto quando eles nos pressionaram para tomar uma atitude para com os referidos alunos bagunceiros da 8ªA. Eles disseram que não conseguem lecionar com aqueles alunos e pediram para que tomássemos providências. Eu propus que às quartas-feiras eu iria ficar com alguns alunos em minha sala fazendo um trabalho diferenciado. E eis que a quarta-feira chegou. Uma das professoras mandou para a minha sala alguns alunos, na realidade, sete alunos. Eu conversei com eles sobre a postura deles, falamos sobre termos compromisso com nossa educação, sobre termos postura de bons alunos, para que os professores consigam lecionar e eles consigam aprender. Que eles já estão com fama de bagunceiros e que só eles podem mudar isso. Pedi para eles fazerem um acordo comigo de que irão se empenhar em mudar. Nos demos as mãos, mais uma vez, e fizemos esse acordo, depois pedi para eles escreverem o que acharam da nossa conversa naquele dia. Alguns escreveram que foi chata. E outros escreveram que irão se empenhar em mudar, entre eles Martins, João e Marcos*. Após a conversa eles voltaram para a sala para pegarem o material. Quando voltei para o grupo de formação, a professora que encaminhou os alunos disse que eles voltaram da minha sala e chutaram a porta para entrarem. Verificamos nas câmeras e percebemos que três desses alunos não estavam chutando a porta, dois desses três foram o Martins e o João. Antes de começar a formação com os professores esses três alunos: Martins, João e Marcos vieram me procurar e disseram que os outros meninos não querem mesmo nada com nada, que saíram da minha sala rindo e dizendo que não farão nada para mudar, e que eles querem se reunir às quartas-feiras, sozinhos, na minha sala. Eu disse que tudo bem. Que então vou começar a vigiar e ficar em cima deles, mas que eles terão que colaborar. Fiquei imensamente satisfeita com isso. Fiquei muito feliz mesmo!!
*Nome fictício

sábado, 12 de junho de 2010

Decepção...

A vida não é nada fácil. Disso já sei faz algum tempo. E como diz o poema: Eu aprendi que a vida é dura, mas eu sou mais ainda. Esta semana fiquei deveras decepcionada com o Martins (vide posts anteriores). Na semana passada havia ficado imensamente feliz, pois um professor o havia elogiado, dizendo que ele era bom caráter, tinha caráter no coração. Era um rapaz bom. E eis que este mesmo professor, nesta semana, vem, e me diz que não poderia ver o Martins na frente pois havia discutido com ele na sua aula. Eu, claro, fui perguntar para o Martins, ele me disse que ele tinha uma dúvida e que o referido professor não respondeu a ele. Mas isso foi, para mim, uma decepção, já que, havíamos feito um acordo e nos dado a mão, como antigamente eram selados os acordos entre cavalheiros. Por esta atitude, de Martins continuar bagunçando, é que fiquei decepcionada. Eu sei que ele não virará um santo do dia para a noite, nem quero que ele vire um santo, ele é um adolescente, e adolescentes precisam de intensa auto-afirmação. Mas eu gostaria que ele amadurecesse e percebesse que o tempo passa e que as oportunidades, muitas vezes, perdidas, não voltam mais. Nesta sexta-feira fui à escola somente para realizar o encontro da aula do meu projeto de profissionalização, já que tinha formação na Diretoria de Ensino e não precisava ir para a escola. Martins estava lá e levou junto João*, um aluno que convidei diversas vezes para ir e nunca foi, e com o qual conversei, também, outro dia, junto com Martins e mais alguns outros alunos. Não sei se João percebe a necessidade de estudar para ter um futuro próspero, mas pelo menos ele estava lá, ouviu o que eu disse, participou do que discutimos, alguma coisa na mente dele há de ficar. Mas o que me interessa é o futuro do Martins, eu espero que ele reflita sobre suas atitudes, e continue querendo mudar seu futuro. Sendo uma pessoa digna de elogios, sempre, por suas atitudes positivas. Eu me decepcionei com ele, sim, mas a pior decepção é aquela que te faz querer continuar e tentar novamente.
* Nome fictício.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Continuando ...


Escrevi o projeto, e entreguei para a supervisora de ensino, que aprovou que eu desse andamento a ele, desde que não atrapalhasse minhas outras tarefas como coordenadora. Sendo assim, comecei passando nas salas das oitavas séries perguntando quem queria participar. Para minha alegria, o referido garoto, colocou seu nome como interessado em participar do projeto. Se ele não tivesse colocado o nome na lista, eu iria convocá-lo para participar. Mas ele veio, ele e mais 4 meninas, de uma oitava série. Na outra semana não pude fazer a reunião do projeto, pois houve um incidente com alguns alunos de outra oitava série e a diretora ficou conversando com eles. Na outra semana, ele estava lá novamente, firme e forte. Percebi que ele realmente estava a fim de mudar a sua vida. Então, um certo dia, chamei-o num local reservado, na escola e conversei por um bom tempo, seriamente, com ele. E disse: Martins*, eu percebi que você está empenhado em mudar, e quero investir em você. Sei que você é inteligente, educado e tem tudo para ser o que você quiser na vida. Eu vou pegar no pé dele e que se você não quiser, quiser zoar, não fazer nada, que me fale, que aí eu invisto em outra pessoa, que esteja a fim. Ele disse: Vamos tentar né? Continuamos conversando, perguntei sobre a família dele, sobre o que ele gostava de fazer, sobre o que ele tinha em mente se tornar, que cursos fazia, o que queria ser na vida...Conversamos por um longo tempo....
* Martins será o nome fictício que irei utilizar nos próximos posts para se referir a meu pupilo.

terça-feira, 1 de junho de 2010

Começo do Ano Letivo

Começa com esta postagem, uma série de postagem sobre algo imensamente significativo em minha vida, como pessoa e como educadora que sou. No início do presente ano letivo, alguns professores das oitavas séries do ensino fundamental II da escola onde sou coordenadora pedagógica pediram para que fossem feitas reuniões com alguns alunos determinados por eles como indisciplinados, com os quais "não dá para trabalhar em sala de aula". Organizamos as devidas reuniões. O primeiro garoto veio, conversamos, o dispensamos, o segundo garoto veio, conversamos e o dispensamos. O terceiro garoto veio. Para ele eu fiz as seguintes perguntas: O que você pensa em ser quando crescer? Em que pensa em trabalhar? Perguntas para as quais recebi a seguinte resposta: "Sei lá". Dispensei esse garoto também, e conversei com os professores explicando a eles que os alunos podem estar indisciplinados em sala de aula pois não veem sentido na escola, pois como não têm perspectivas de vida, por que irão estudar? Aquele último garoto me intrigou, por sua educação. Ele falava baixo, sentou-se corretamente. Olhar baixo, sem confrontar com nossos olhares, mas em nenhum momento aumentou o tom de voz, falou palavrões ou desrespeitou qualquer pessoa que estava ali na frente dele o inquirindo. Após terminadas as chamadas dos alunos para minha sala, para as tais conversas, chamei à parte este último garoto. E fiz as mesmas perguntas para ele novamente. Confirmando que ele não tinha perspectivas de vida. Ele disse que iria se comportar e assim foi, voltando para a sala de aula. Alguns dias depois encontro o garoto no pátio, esperando a diretora para conversar com ela, pois havia quebrado um vidro do corredor da escola. Apesar que ele alegava que não havia sido ele. Decepção, pois achei que ele se emendaria, após a conversa que tivemos. Diante dessas situações eu comecei a elaborar um projeto para ser desenvolvido na escola, o qual já tinha tido ideia de implementar no ano anterior, mas que não pude concretizar.